Paulo Takeuchi

Felizmente após um longo período, o setor de Duas Rodas conseguiu fabricar
normalmente, sem percalços neste primeiro bimestre. As fábricas operaram com a
capacidade produtiva total para atender à demanda que estava reprimida em função de
defasagens na produção.

Agora é seguir torcendo para que não ocorram eventuais problemas de abastecimento
de componentes externos, em função do ambiente internacional que continua muito
instável, seja pela economia ou pela política, onde a relação não amigável entre os
Estados Unidos e a China afeta globalmente o mercado, assim como o confronto entre
a Rússia e a Ucrânia que completou um ano, impacta a economia mundial.

Também temos preocupações internas para administrar como a continuidade da
demanda por nossos produtos, que dependem basicamente de créditos para sua
comercialização. A alta dos juros e o aumento da inadimplência, aliado aos problemas
de fechamento de bancos nos Estados Unidos, podem levar as instituições financeiras
brasileiras a reduzir suas ofertas de financiamento.

O discurso político do Governo está voltado para a população de menor renda, o que é
muito positivo. Porém, receio que as ações para que isto ocorra poderão não se
concretizar, pois estão baseadas em criar mecanismos para poder gastar mais e na
reforma tributária, como medidas salvadores da pátria.

A lei dos limites de gastos foi criada para que haja responsabilidade fiscal de não se
gastar mais do que se arrecada, uma regra básica em qualquer empresa e família. Se os
gastos forem maiores, teremos o déficit que necessita ser coberto por bancos que
cobram juros, que aumentam os custos e as despesas. Para as famílias, esse cenário
significa reduzir consumo e perder a renda. Para o País, representa mais inflação e isso
afeta ainda mais as famílias endividadas, pois para controlar a inflação, o Governo
necessita elevar ainda mais os juros, piorando a situação geral.

A reforma tributária, sem dúvidas, é necessária, pois hoje pagamos até imposto sobre
impostos. Porém, não pode ser feita com a superficialidade que vem sendo tratada e
muito menos colocar em prática uma teoria perfeita apenas no papel. A realidade é mais
cruel que a teoria e as diferenças regionais são exemplos reais disto.

Acredito que deveríamos ter várias minirreformas, em diversas áreas. Por exemplo,
reduzir despesas governamentais com revisão de gastos desnecessários e desperdícios,
sempre é possível. Sabemos fazer isso, basta querer. A revisão administrativa, com a
eliminação de processos ultrapassados e desnecessários, desburocratizando e
informatizando os controles, podem resultar em economia de tempo e dinheiro. É
importante fazer a revisão na área da educação, pois precisamos formar os
administradores e políticos do futuro, para que tenham conhecimentos e conceitos
básicos.

O computador é somente uma ferramenta, não é o cérebro de criação e de
comando. É preciso também uma revisão na política industrial. As pequenas e médias
indústrias pagam mais caro pela matéria-prima do que as grandes empresas. É
necessário inverter isso e fortalecer as pequenas empresas para se tornarem grandes.
Há, ainda, a área de saúde. Podemos trabalhar com foco no preventivo em vez do
corretivo. Com isso, teremos gastos menores, aumento da produtividade dos
trabalhadores e da qualidade de vida da população. Já a reforma tributária, na qual se
pretende fazer uma grande revolução, só dará certo, na prática, se começar por ajustes
de cada tributo, por etapas, e atacando as causas e não seus efeitos.

Por fim, para aumentar a renda da população, há somente uma solução: emprego e
trabalho. Para termos mais emprego, é fundamental termos um ambiente de negócios
que permita a atração de investimentos. Para isto, é necessário ter uma diretriz e uma
política de Estado para os próximos 10, 15 ou 20 anos, com segurança jurídica e política.
Cada novo governo deve dar continuidade ao que foi planejado. Sem esta garantia,
seremos sempre um país do futuro com enorme potencial de crescimento, mas
continuando a ser pobre em todos os sentidos.

Paulo Takeuchi é diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de
Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – Abraciclo.

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