Por Marco Dassori
A confiança dos comerciantes de Manaus reforçou alta em fevereiro, a despeito da sazonalidade. A melhora seguiu em linha com a média nacional, conforme o Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), da CNC. No mês do Carnaval, os lojistas melhoraram a percepção sobre o momento presente e mantiveram a intenção de investir, embora a vontade de contratar tenha voltado a arrefecer. O entusiasmo, no entanto, ainda é bem menor do que o de um ano atrás, e sofre os impactos do aumento de custos pós-vazante e de um consumidor ainda estrangulado por dívidas e juros altos.
Manaus aparece com 113,9 pontos no levantamento, sendo que valores acima de 100 pontos indicam satisfação. O indicador cresceu apenas 0,8% sobre janeiro (112,9 pontos), no terceiro mês de retomada após o derretimento de expectativas gerado pela estiagem recorde de 2023. O otimismo ainda é maior nas empresas com até 50 funcionários e que vendem bens semiduráveis. Mas, a confiança ficou 11,5% abaixo do patamar do mesmo mês de 2023 (128,6 pontos). Na média brasileira (109,7 pontos), o indicador também avançou na variação mensal (+2,4%), mas continuou refratário na anual (-4,9%).
A nova inflexão positiva do Icec ocorre no mesmo mês em que a ICF (Intenção de Consumo das Famílias), medida pela mesma CNC, interrompeu 19 meses de altas mensais, impactada pela piora de humor do consumidor com até dez salários mínimos de renda familiar, e pelo derretimento nas percepções sobre renda, consumo, emprego e acesso a crédito e intenção de comprar bens duráveis. Já a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da mesma entidade aponta que 80,3% (529.820) das famílias da cidade estão embarreiradas por contas a pagar, e 50,7% (334.743) estão inadimplentes.
Empregos e investimentos
Seis dos nove subcomponentes do indicador pontuaram expansão em Manaus. As melhoras mais acentuadas vêm das condições atuais do comércio (+6,5% e 88,7 pontos) e da economia brasileira (+4,5% e 74,5 pontos) – embora ambos permanecem no nível de insatisfação. O nível de investimento das empresas (+1,5% e 105,2 pontos) e a expectativa das empresas comerciais (+1% e 159,4 pontos) também tiveram elevações acima da média do Icec local.
A visão sobre o bem estar atual dos estabelecimentos comerciais (+0,4% e 110 pontos) progrediu menos, assim como a situação dos estoques (+0,9% e 86,7 pontos). Os dados negativos vieram das expectativas empresariais com a economia brasileira (-1,4% e 138,8 pontos) e com o comércio (-0,9% e 147 pontos), assim como do indicador de contratação de funcionários (-1,3% e 114,4 pontos).
A maioria dos varejistas locais ainda considera que as condições atuais da economia “pioraram muito” (35%), mas o número voltou a desidratar no mês e já é secundado pelo segmento crescente dos que apontam que “melhorou um pouco” (27,1%). Em seguida estão os que dizem que “piorou um pouco” (27,1%) e que “melhorou muito” (8,1%). A visão predominante a respeito do setor (34,6%) e das empresas (43,9%) são de melhoras relativas.
Mesmo com a piora, a pesquisa ainda mostra um panorama melhor para as expectativas de um futuro sempre adiado. A maior parte dos comerciantes aposta que a economia brasileira vai “melhorar muito” (41,9%) ou “melhorar um pouco” (32,8%). Os grupos que cravam que vai “piorar muito” (13,7%) ou que vai “piorar um pouco” (11,6%) perderam adeptos. As projeções que pesam mais para o comércio e para os estabelecimentos ainda são de progressos mais significativos (41,8% e 48,3%, na ordem).
Apesar do retrocesso do subindicador de contratação de funcionários, a parte majoritária dos lojistas ainda aponta que seus quadros devem “aumentar um pouco” (42%). A parcela dos que dizem que pode “reduzir um pouco”, entretanto, subiu para 36,2%. As visões predominantes para investimento seguem cravando que pode ser “um pouco menor” (32,3%). O entendimento sobre a situação dos estoques mal se moveu: só 57,8% dizem que está “adequado”. Outros 25,9% informam que está acima do ideal – em função de vendas fracas – e 12,6% apontam que está abaixo dessa marca – dado o rescaldo logístico da vazante.
Efeito vazante
Em entrevista concedida recentemente à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, disse que o comerciante de Manaus ainda mantém cautela. “A estiagem encareceu o frete e as operações portuárias, além de aumentar o prazo de recepção de mercadorias, e isso ainda repercute no Icec. Apesar das vendas de dezembro terem crescido, os custos e a inadimplência do consumidor ainda repercutem no funcionamento pleno da economia. Mas, como sempre ressaltamos, o primeiro semestre é inferior em movimento ao segundo”, ponderou.
No texto da assessoria de imprensa da CNC, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, diz que os números do levantamento revelam que os varejistas ainda não estão satisfeitos com o momento atual da economia e do comércio, apenas menos pessimistas. “A confiança do setor está crescendo, mas ainda há desafios a serem superados, como o alto custo do crédito e a inadimplência. A priorização do consumo em bens essenciais também é um fator a ser observado”, ressaltou.
Já o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, alerta que, apesar do otimismo com o futuro, os varejistas brasileiros ainda enfrentam desafios, com a média de taxa de juros das empresas (média de 18,4%) e a inadimplência entre elas (que aumentou de 2% para 3,5%) dificultando o acesso ao crédito. E acrescenta que o ICF revelou maior preocupação das famílias em organizar o orçamento. “A perspectiva para consumir permaneceu em declínio, mas o percentual de consumidores que pretendem reduzir as compras também vem caindo, o que impacta positivamente a expectativa dos comerciantes em relação aos próximos meses”, finalizou.
Fonte: JCAM