O mercado de trabalho do Amazonas melhorou em 2022, em sintonia com a média nacional. Assim como ocorrido nas demais unidades federativas, o setor de serviços foi o motor de empregos, em sinergia com comércio, serviços e demais atividades. Especialistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio, no entanto, apontam que problemas estruturais, como baixa qualificação de mão de obra, contribuem para uma maior informalidade nos postos de trabalho. Mas, avaliam que 2023 pode oferecer oportunidades para correção dessas distorções e outras.

A presidente da ABRH-AM (Associação Brasileira de Recursos Humanos – seção Amazonas), Silvana Aquino, lembra que o Estado criou 39.733 empregos com carteira assinada,até outubro de 2022, ou 2.893 vagas a mais do que o registrado em igual período do ano anterior. “Foi um ano que, apesar de ter começado com muitos desafios em relação às questões da pandemia, muita falta de matéria-prima nas indústrias, e os impactos econômicos da guerra na Ucrânia, teve um saldo positivo de postos de trabalho”, ponderou.

A executiva destaca que, assim como na média nacional, o setor que mais deu oportunidades de emprego no acumulado do ano foi o de serviços, especialmente no grupo que reúne os segmentos de informação, comunicação, e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, que registrou alta de 11,05% (+9.518) nas vagas formais. Na sequência estão comércio (+8,48% e +8.872) e indústria (+5,33% e +6.138). “Isso mostra a retomada da economia no Amazonas, assim como no restante do país”, avaliou.

Silvana Aquino aponta que uma das áreas que deve gerar mais postos de trabalho em 2023 é a de tecnologia da informação, replicando a dinâmica apresentada em 2022. “Na sequência está a área de marketing, principalmente no ambiente digital. É claro que continuaram surgindo oportunidades também no Polo Industrial de Manaus. Este depende de matéria-prima vinda de outros países e seus resultados estão sujeitos ao que acontece neles. Mas, há perspectivas de crescimento e de geração de empregos”, indicou.

O comércio, conforme a presidente da ABRH-AM, também deve continuar abrindo vagas no ano novo. “Justamente pela retomada da economia, temos boas perspectivas, com novas lojas e outras marcas chegando e trazendo mais oportunidades de trabalho, assim como grandes distribuidoras de alimentos e supermercados. Temos visto também muitos postos de combustíveis abrindo. A gente segue acompanhando também todas as mudanças trazidas pelo novo governo federal, que vai se formando nessa transição”, asseverou.

Informalidade e qualificação

No entendimento da ex-vice-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, o mercado de trabalho no Amazonas deve ser analisado tendo como base não apenas a taxa de desemprego, mas também a informalidade, a subutilização da mão de obra empregada e a condição média de sua qualificação –que ela aponta como baixa.

“Tivemos um avanço no desemprego, na última década, com a taxa passando de 9,1% para 15,4% no Amazonas. Na capital, ela já chega a 18,7%, lembrando que a média nacional é de aproximadamente 8,7%. Em relação à proporção à informalidade, o Amazonas apresenta a terceira mais alta proporção de todo o país, com 57,1% trabalhadores nessa condição. Fica atrás apenas do Pará e do Maranhão e bem acima do número brasileiro, que é de 39,4%”, observou, ao citar números da Pnad Contínua, do IBGE.

A economista observa que a subutilização da mão de obra e a “baixa qualificação” estão diretamente ligadas, pois têm como base a insuficiência no nível de escolaridade médio, que reduz a produtividade no trabalho e as remunerações, além de prover uma formação insuficiente para que os trabalhadores consigam ocupar as vagas disponíveis no mercado de trabalho. “Em resumo, o baixo aproveitamento da capacidade produtiva impacta na renda e dificulta o desenvolvimento do capital humano”, sintetizou.

Segundo Michele Lins Aracaty e Silva, os entraves citados não apenas impactam no mercado de trabalho, mas também frustram as oportunidades de um “desenvolvimento sustentável regional”, já que dificulta a identificação e o aproveitamento das potencialidades do Estado em outras matrizes econômicas, que possam ser agregadas à ZFM. “Precisamos de investimento bem direcionado em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para fazer a ponte entre os avanços da indústria 4.0, a bioeconomia e o mercado digital, para gerar mais emprego e renda, com maiores remunerações”, acrescentou.

A economista enfatiza que em todos os pontos fracos apresentados, a educação e a formação constante e empreendedora da mão de obra são relevantes para um processo de transformação. E recomenda o incentivo à formalização empresarial e o empreendedorismo entre jovens e mulheres. “Por fim, ressaltamos que todos os Estados da região Norte apresentam uma fotografia de uma realidade muito semelhante, o que reforça a necessidade de políticas públicas regionais para superar desigualdades”, frisou.

O consultor econômico e coordenador regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Inaldo Seixas, considera que os dados mostram um quadro virtualmente positivo para o mercado de trabalho amazonense. O economista ressalta, no entanto, que a taxa de desocupação e de informalidade no Estado e em sua capital continuam em níveis mais elevados do que as da média nacional.

“Tivemos uma redução na desocupação, mas há muito espaço para melhorar. Aumentar a formalização e o controle das empresas pela fiscalização talvez seja um dos grandes desafios. O novo governo não deve revogar a reforma Trabalhista, mas pode alterar alguns pontos, como o contrato intermitente, no qual o trabalhador não tem quantidade mínima de horas para gerar salário digno e contribuir para a seguridade social”, exemplificou.

Inaldo Seixas observa que a PEC do Teto de Gastos abriu espaço para o novo governo realocar R$ 70 bilhões “em muitos ministérios”, e que esses recursos não devem ir apenas para “gastos correntes” em saúde e educação, mas também para investimentos públicos que gerem emprego e renda. “Aumentar a taxa de investimento, é elevar a expectativa do PIB e reverter essa taxa de crescimento baixo, e tentar incentivar o mercado de trabalho, principalmente com mais obras no Minha Casa Minha Vida e pelo resgate de obras paradas na construção civil, que é um setor que facilmente gera empregos”, analisou.

O economista lembra que, em tempos de indústria 4.0 e maior robotização, a tendência do PIM é gerar gradativamente menos empregos diretos, apesar de seu crescimento. Por isso, recomenda que sejam ativados outros setores “que possam contratar pessoas de menor formação”, como turismo e construção civil, para gerar empregos no curto prazo. “Mas, no médio prazo, vamos ter de incidir na formação do capital humano”, concluiu.

Procurado pelo Jornal do Commercio, o presidente do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos do Estado do Amazonas) e da CUT-AM (Central Única dos Trabalhadores – seção Amazonas), Valdemir Santana, não retornou às perguntas da reportagem até o fechamento desta edição.

Fonte: JCAM

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