Reportagem: Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

O interior do Amazonas registrou seu sexto mês seguido de saldo positivo de empregos formais, em julho. As contratações (+1.681) voltaram a superar as demissões (-1.122), gerando acréscimo de 559 postos de trabalho com carteira assinada e alta de 0,12% sobre o estoque anterior. Foi um resultado pouco abaixo do registrado em junho de 2022 (+569), mas bem superior ao de 12 meses atrás (+294). Com isso, os municípios também conseguiram ampliar o quadro de trabalhadores formais no acumulado do ano (+2.830) e dos últimos 12 meses (+3.954). Os dados são do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

As novas contratações foram sustentadas pelos setores de serviços e comércio, sendo seguidos à distância por indústria e construção. Tradicional motor de contratações no interior, a agropecuária retomou ao campo negativo. A quantidade de municípios com saldo positivo caiu, com destaque para Parintins, Iranduba, Itacoatiara e Humaitá. Presidente Figueiredo seguiu recuperando vagas mas, em sintonia com o aumento dos custos dos insumos agrícolas e das incertezas no polo de concentrados em decorrência da crise do IPI, se mantém no vermelho no acumulado do ano.

Em julho, 36 dos 61 dos municípios do interior do Amazonas tiveram mais admissões do que desligamentos, em performance igual à de junho. Ao menos oito pontuaram estabilidade e os 17 restantes extinguiram empregos. Mas, o volume de vagas geradas na maioria das cidades foi novamente irrisório. Em termos absolutos, os melhores resultados vieram de Parintins (+185 e +6,05%), Iranduba (+70 e +2,73%) e Itacoatiara (+62 +0,93%). A maior expansão proporcional veio de Japurá (+13,04%), que criou somente três postos de trabalho. Em contraste, os cortes mais severos se concentraram principalmente em Eirunepé (-17) e Apuí (-16).

Em sete meses, 45 prefeituras comemoraram geração de empregos, cinco ficaram na mesma e 11 amargaram destruição de empregos. Parintins (+504 e +18,41%), Humaitá (+316 e +13,35%), Itacoatiara (+285 e +4,43%) e Iranduba (+284 e +12,07%) encabeçaram a lista. Embora tenha esboçado nova reação no mês, Presidente Figueiredo (-140 e -4,21%) ainda é o único com cortes de três dígitos. Em 12 meses, o rol de municípios com empregabilidade no azul sobe para 51. Somente um estancou e outros nove fecharam no vermelho. Parintins (+591 e +22,30%) e Codajás (-6 e -3,90%) ficaram nos extremos.

Estoques e atividades

Os números de julho confirmaram ainda que a oferta de trabalho formal no interior segue concentrada. A soma dos estoques de empregos –que é a quantidade total de vínculos celetistas ativos –dos sete municípios mais populosos do interior respondeu por mais da metade de todo o volume de vagas contabilizadas fora da capital (43.669). A lista inclui Itacoatiara (6.714), Presidente Figueiredo (3.176), Parintins (3.146), Manacapuru (3.117), Tabatinga (2.865), Humaitá (2.634) e Tefé (1.970).

Diferente do ocorrido no mês anterior, nem todos os setores econômicos conseguiram saldos positivos, na passagem de junho para julho de 2022. As contratações nos municípios do interior foram carreadas por serviços (+296), que retomaram a liderança, após caírem para a terceira posição, no levantamento anterior. Na sequência vieram comércio (+149), indústria (+75) e construção (+44). O dado negativo veio da agropecuária (-5). Os motores das contratações em Parintins foram as atividades de saúde humana e serviços sociais (+171), em detrimento do comércio varejista (-24).

De janeiro a julho, a agropecuária (-270) ainda é a única atividade econômica a eliminar empregos no interior. Serviços (+1.158) e comércio (+965) puxaram as contratações com folga, mas indústria (+644) e construção (+333) também fecharam no azul. No ano, Humaitá foi alavancado pelos serviços de administração pública (+65), pelo varejo (+78) e pelas obras de infraestrutura (+46). As demissões de Presidente Figueiredo, por outro lado, se concentraram exclusivamente nas lavouras temporárias de cana-de-açúcar (-400).

Melhora conjuntural

A ex-vice-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, avalia que os dados do Novo Caged refletem uma melhora gradativa da atividade econômica e estão dentro do que se espera após os meses de retração. Ela destaca que os resultados positivos de geração de emprego e renda no interior proporcionam impacto positivo em toda a cadeia de consumo do Estado e oportunizam a geração de mais postos de trabalho, especialmente no comércio e nos serviços.

“Entre os fatores responsáveis pela dinâmica dos números, destacamos uma maior circulação de renda disponível na economia local, como o pagamento de uma parte do 13º salário, o que contribui para o aquecimento e retomada da atividade econômica. Acredito que os números de geração de emprego e renda sejam ainda mais positivos para os próximos meses, uma vez que teremos a Copa do Mundo e estamos nos aproximando do final de ano, que figura como um período de festas, confraternizações e compras”, asseverou.

Na mesma linha, a consultora empresarial, professora e integrante da seção regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Denise Kassama, vê um possível ensaio de recuperação dos impactos econômicos da pandemia no interior, dado que boa parte dos setores favorecidos teve ritmo reduzido pela crise sanitária. “Quando a geração de empregos está pautada em serviços e construção, indica que está aumentando a circulação de recursos e renda, o que estimula o consumo. Isso ocorre possivelmente na sede dos municípios, uma vez que a agropecuária sinaliza queda e também conta com muita informalidade”, analisou.

A economista ressalva que, embora a notícia seja boa, não há expectativa de um crescimento “muito expressivo”, mas somente de recuperação econômica. “Achei interessante que os empregos na administração pública não são majoritários. Se fossem, eu diria que seria por conta da campanha política, o que felizmente não é o caso. Mas, a continuidade no processo de crescimento depende de investimentos em logística, para que a produção dos municípios possa ser escoada e comercializada em outras localidades”, ponderou.

Já o também consultor empresarial, professor universitário e ex-presidente do Corecon-AM, Francisco de Assis Mourão Júnior, concorda que o ciclo virtuoso na geração de empregos no interior pode ser meramente conjuntural. No entendimento do economista, os saldos positivos vêm principalmente das liberações de recursos do FGTS, antecipação do 13º para aposentados e pensionistas do INSS, assim como a liberação do Auxílio Brasil. “Ainda há a hipótese de o ano eleitoral gerar postos de trabalho no interior. São fatores positivos. No conceito de economia, na medida em que você gera renda, gera consumo e produção”, concluiu.

Fonte: JCAM

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