A indústria de bicicletas do PIM ensaiou um começo de 2024 com o pedal direito. O Polo Industrial de Manaus fabricou 25.040 unidades em janeiro, gerando uma escalada de 245,6% em relação a dezembro de 2023 (7.245). Mas, na comparação com o mesmo mês do ano passado (38.636) –que já mostrava número abaixo do patamar médio do mês –o segmento despencou 35,2%. É que revelam os dados mais recentes da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares).
Em comunicado à imprensa, a entidade destaca que o resultado ainda segue em linha com o que foi projetado pelas fabricantes para 2024, que se preparam para um terceiro ano consecutivo de queda de produção. A estimativa, divulgada na coletiva de imprensa realizada em janeiro, indica uma queda de 21,2% na oferta do PIM, de 456.917 (2023) para 360.000 (2024) unidades. É o patamar mais baixo desde 1992 (135.355). A Abraciclo destaca que o recuo ocorre em paralelo com as apostas crescentes em produtos de maior valor agregado e de melhor qualidade –e que conferem faturamento maior.
Motivos para metas mais modestas não faltam. O polo de bicicletas encolheu 23,7%, na comparação de 2023 com o exercício anterior (599.044). A retração veio ainda maior do que o esperado pela Abraciclo (-14,9%), que já havia revisado seus números para baixo. A última vez em que o subsetor fechou no azul foi em 2021 (+15,7% e 723.950) –o segundo ano da pandemia. Por trás dos números há o estrangulamento da demanda e a saturação do mercado, assim como os rescaldos da crise logística gerada pela vazante histórica.
“Fenômeno mundial”
Indagado pela reportagem do Jornal do Commercio, o vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo, Fernando Rocha, disse que os números configuram o ponto fora da curva, uma vez que o segmento partiu de uma base mensal muito baixa. “O primeiro mês do ano teve impacto do retorno das férias coletivas e menor número de dias úteis (de dezembro), o que justificou a produção de pouco mais de 25 mil bicicletas”, respondeu o executivo, por meio da assessoria de imprensa da entidade.
De acordo com o dirigente, passado o boom de demanda gerado nos anos da pandemia, os tempos têm sido desafiadores para os fabricantes de bicicletas, em termos de excesso de estoque, baixa demanda, empresas com fluxo de caixa “bem dificultado” e fábricas parando. “É importante ressaltar que a redução nos volumes de bicicletas em 2024 não é um fenômeno exclusivo do Brasil, acontecendo também, por exemplo, em vários países da Europa”, destacou.
O vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo garantiu também que os recuos contínuos na produção não implicam necessariamente em faturamento menor, já que as montadoras estão trabalhando gradativamente com produtos mais caros. A expectativa é que, com as mudanças de mercado e o emprego cada vez maior de tecnologia e inovação dos produtos, o ticket médio das bicicletas ‘made in Zona Franca de Manaus’ escale 75% neste ano, de R$ 1.600 para R$ 2.800.
“O abastecimento de peças e componentes está normalizado, e que as fabricantes têm concentrado seus esforços nos ajustes dos estoques e no replanejamento das linhas de produção, procurando atender a um consumidor que, cada vez mais, busca produtos diferenciados, com alta qualidade e nível tecnológico”, salientou. “O mercado está em transformação. Os fabricantes estão preparados e os investimentos não pararam”, completou.
MTB x Elétricas
O PIM reúne quatro fábricas do segmento –Caloi, Sense Bike, Oggi Bikes e Houston Bike –e responde por quase 40% da oferta brasileira do produto. O mercado brasileiro continua vendendo mais bicicletas Moutain Bike, embora categorias minoritárias comecem a abrir mais espaço –especialmente a elétrica. Assim como nos anos anteriores, a MTB liderou o ranking de produção de janeiro, com 66,1% da oferta e 16.540 unidades. Foi seguida pelas categorias Urbana/Lazer (21,6% e 5.414), Elétrica (5,7% e 1.427), Estrada (3,5% e 867) e Infanto-Juvenil (3,2% e 792). Mas, apenas a Elétrica (+53,3%) conseguiu avançar em relação a janeiro de 2023.
“Apesar de uma relevância não tão grande, a bike elétrica vem em um crescimento. Esse é um segmento que, ao longo dos próximos anos, a gente acredita que vai repetir por aqui o que já acontece na Europa: de ter 50% do mercado total de bicicletas”, afiançou. “A categoria cresceu 289% no Brasil, nos últimos cinco anos, em ritmo exponencial. Hoje, as associadas já oferecem 25 modelos e, em 2024, novos modelos serão lançados”, emendou.
O Sudeste recebeu o maior volume de bicicletas fabricadas no PIM, respondendo por 58,8% (14.700) da demanda. O segundo lugar do ranking ficou com o Sul, para onde foram enviadas 3.600 unidades (14,4%). Na sequência, vieram o Nordeste (14% e 3.500), o Centro-Oeste (8,8% e 2.200) e o Norte (4% e 1.000). Somente o Nordeste (+94,4%) e o Centro-Oeste (+15,8%) ganharam terreno na variação anual, enquanto o Norte (-77%) amargou a maior queda.
“Há um excesso de bicicletas no mercado, e essa é a razão de vermos muitos descontos, de 40% a 50% no produto. Por isso, dizemos que esse é um ano de cautela. Temos de acreditar que, com a taxa de juros caindo, o mercado vai voltar a aquecer, mas não achar que os estoques estão equilibrados. Trago a preocupação também que, algumas isenções de impostos concedidas durante a pandemia e não retiradas, está fazendo com que muita bicicleta chegue ao Brasil onde não tem mais demanda, somando-se à produção nacional. É uma bolha que está sendo reorganizada”, finalizou.