Retração de 0,7% em 2022 teve maior influência negativa do segmento de minério de ferro, mas queda foi disseminada. Previsão para 2023 é de que cenário continue difícil. Inflação e juros altos seguram desempenho do setor.
Fernanda Strickland

A produção industrial encerrou 2022 com queda de 0,7% em comparação ao ano anterior, quando havia fechado com alta de 3,9%. De acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o recuo foi disseminado em todas as categorias econômicas.

A maior influência negativa no indicador veio do setor de indústrias extrativas, que recuou 3,2%, puxado pelo minério de ferro. Outros segmentos também tiveram quedas significativas, como produtos de metal (-9%), metalurgia (-5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%) e produtos de borracha e de material plástico (-5,7%).

Entre as atividades que fecharam o ano em alta, destacaram-se a de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis, que avançou 6,6% e exerceu a maior influência positiva no índice. Outros impactos importantes foram registrados por produtos alimentícios (2,4%), veículos automotores (3%), outros produtos químicos (2,3%), celulose e papel (3,1%), e bebidas (3%).

Segundo o gerente da pesquisa, André Macedo, a indústria vem mostrado comportamento predominantemente negativo nos últimos anos. “Muito do crescimento de 2021 (3,9%) tem relação direta com a queda significativa de 2020, por conta do início da pandemia. O setor avançou em 2021, mas influenciado por uma base baixa de comparação, e ainda não superou as perdas de 2020”, relembrou. A produção atual está 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia e é 18,5% inferior ao recorde de maio de 2011.

ECO-Produção industrial montanha russa
ECO-Produção industrial montanha russa(foto: Valdo Virgo)

Em dezembro passado, a produção industrial mostrou variação nula (0,0%) frente a novembro. De acordo com Macedo, o setor industrial chegou a responder às medidas de incremento da renda realizadas pelo governo, como a antecipação do 13º para aposentados e pensionistas, liberação do FGTS, adoção de medidas de estímulo ao crédito, Auxilio-Brasil e auxílio concedido a caminhoneiros, entre outros. “Ao longo do segundo semestre, essa resposta perdeu fôlego e a indústria teve um comportamento de menor intensidade e com maior frequência de resultados negativos”, afirmou Macedo.

O recuo da indústria nacional em 2022 também é explicado por fatores como a taxa de juros em elevação, que afeta diretamente os custos de crédito, além da inflação, principalmente dos alimentos, que impacta na renda das famílias e no consumo, elenca o pesquisador. “Também há influência do aumento nas taxas de inadimplência e de endividamento. E o mercado de trabalho, que embora tenha mostrado clara recuperação ao longo do ano, ainda se caracteriza pela precarização dos postos gerados”, completou.

Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os juros elevados no Brasil e no exterior e o quadro de desaceleração global tendem a manter um ambiente desafiador para a indústria de transformação, sobretudo no primeiro semestre do ano. “Em vista disso, a projeção da Fiesp para a atividade industrial em 2023 é de queda de 0,5%. Este quadro fortalece a necessidade de ações prioritárias, como a urgente reforma tributária”, informou a entidade, em nota.

Fonte: Correio Braziliense

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