Com investimento em torno de R$ 130 milhões do Governo Federal em dragagens, sinalização e gestão ambiental em hidrovias no Estado do Amazonas, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) tem realizado ações e executado os serviços na região. O contrato abrange os pontos críticos do Rio Madeira no trecho entre Porto Velho/RO e Manicoré/AM, com início dos serviços nas proximidades de Porto Velho em 2021, segue um plano de trabalho até junho de 2025.

Os serviços consistem em eliminar os gargalos criados pelo acúmulo de sedimentos no canal de navegação do rio Madeira, nos Estados do Amazonas e Rondônia. O contrato firmado pelo Dnit prevê a dragagem de mais de um milhão de metros cúbicos de sedimentos anualmente. A intenção é manter profundidades mínimas de 3,5 metros no canal de navegação ao longo de toda a estação seca.

De acordo com o órgão, estão sendo dragados os pontos críticos de Cojubim, Curicacas, Papagaios, Miriti, Santa Cruz, Salomão, Costa Primavera, Cintra, Itapuru, Manicoré e Humaitá. Cabe ressaltar que as campanhas de dragagem dos pontos críticos são anuais, sendo necessário o mesmo serviço a cada ano, conforme necessidade.

Nos trechos mais críticos entre Porto Velho e Vilhena, entre Rondônia e o Amazonas, a dragagem do Rio Madeira que já tem trechos tomados pelos bolsões de areia prejudicando a navegação. A remoção dos bancos de areia que se formam no leito do rio, dificultam a travessia de baladas e  limita o desempenho do transporte fluvial na região como um todo, principalmente com a chegada do período de vazante.

Diariamente cerca de 280 veículos atravessam em balsas e o funcionamento da embarcação é essencial para evitar o isolamento das cidades da região.

Cleber Favero que atua como gerente de travessia de balsa disse que foi uma luta conseguir o serviço de dragagem para o setor. “Estamos conseguindo trabalhar com o volume de carga normal. Nos outros anos, a gente já precisava trabalhar com a redução de cargas transportadas. As pessoas ficavam na fila até 24 horas. E este ano, graças a Deus, a gente está conseguindo trabalhar normalmente”.

De acordo com o Dnit,  o novo contrato de dragagem possibilita o emprego de duas metodologias de dragagem, a metodologia aplicada é a Draga Hopper onde é feita a dragagem por sucção do sedimento e enchimento da cisterna, a viagem é feita com a cisterna cheia até a área de bota-fora, locais onde são dispostos os materiais resultantes da dragagem, de forma a não prejudicar a segurança da navegação no local. A draga por sucção e recalque é indicada para a remoção dos materiais sólidos do fundo de corpo d’água, onde a mesma retira o material dragado através de tubulação.

Em entrevistas anteriores ao Jornal do Commercio sobre o tema, representantes do setor de navegação reiteraram que a inviabilização das atividades de dragagem do rio Madeira  é  um dos fatores que  limitam o desempenho do transporte fluvial na região, ou seja, com o baixo nível das águas, as empresas de navegação são obrigadas a reduzir a capacidade de cargas transportadas das embarcações para continuar navegando. Além disso, as dificuldades de navegação quase que dobram o tempo de viagem de Manaus (AM) a Porto Velho (RO).

A redução do nível do rio impacta no número de mercadorias transportadas,  um exemplo é o escoamento de grãos que cai na ordem de 50% da sua capacidade em função do calado. Já a carga de combustível sofre uma redução de 30% e isso encarece o frete porque aumenta o tempo de viagem em consequência de não conseguir navegar à noite.

Os prejuízos também refletem no valor dos fretes que aumentam em torno de 15% ou nas despesas das empresas em razão da baixa produtividade. Como demora mais o tempo de viagem, acaba que a rotatividade e capacidade de carga é menor.

Anualmente, são transportados 12 milhões de toneladas pela Hidrovia do Madeira. Por ela, passam os maiores comboios da navegação interior, chegando a 40 mil toneladas de grãos. Na seca, cada comboio consegue transportar 7 mil toneladas.

O Rio Madeira é um dos principais corredores logísticos do país e integra o Arco Norte – região que compreende os estados de Rondônia, Amazonas, Amapá, Pará e segue até o Maranhão. Pela hidrovia do Madeira, ocorre o escoamento da produção agrícola, principalmente soja e milho de Mato Grosso e Rondônia, e insumos como combustíveis e fertilizantes, com destino a Porto Velho e Manaus, além de alimentos e produtos produzidos na Zona Franca de Manaus.

Sindarma alerta

O Sindarma (Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas) emitiu semana passada, alerta para as empresas associadas sobre os riscos do transporte de cargas durante o período de estiagem nos rios da região nos próximos quatro meses.

Dados divulgados no início de julho pelo  Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), do Ministério da Defesa, indicam que a previsão para 2023 é que os estados do Norte brasileiro terão chuvas abaixo do normal mesmo para a temporada, e que a estação seca será prolongada e rigorosa até novembro por conta do fenômeno El Niño.

Com a descida dos rios, o presidente do Sindarma, Galdino Alencar Júnior, explica que os principais riscos para o transporte fluvial no Amazonas são o aumento dos ataques de piratas, a ação de garimpeiros ilegais (nos canais de navegação) e as pedras, bancos de areia e troncos, principalmente na bacia do Rio Madeira e do Solimões.

“Nestes meses, o tempo de viagem quase dobra porque alguns trechos, como Humaitá (AM) a Porto Velho (RO), a navegação é suspensa de noite, fica mais lenta durante o dia, e as embarcações se tornam um alvo fácil para ação dos criminosos”, explicou Galdino, ao acrescentar que as empresas irão reforçar as escoltas de segurança privadas que acompanham os comboios.

“Com as escoltas, os roubos das quadrilhas caíram em 2023 e neste semestre ainda não registramos nenhuma ocorrência, mas todos os dias há tentativas e trocas de tiros, que são evitadas pelos seguranças privados que contratamos para garantir a continuidade do abastecimento de combustível e outros produtos de primeira necessidade aos municípios do interior”, alertou.

Passageiros

De acordo com Galdino Alencar, as ‘ameaças naturais’ à navegação durante a estiagem – como pedras, bancos de areia e troncos de árvores – não representam um risco grave para as balsas (petroleiras) uma vez que estas possuem casco duplo de ferro, uma série de equipamentos de navegação e tripulantes experientes e conhecedores do regime das águas.

“Hoje o Amazonas tem a frota de balsas de (petroleiras) mais modernas do Brasil, na qual o risco de vazamento ou acidentes desta natureza é quase nulo, porém ainda há muitos barcos de passageiros feitos de madeira que precisam ser modernizados com urgência”, alertou o dirigente, ao citar os ‘pedrais’ do Marmelo e do Uruá, ambos no Rio Madeira, como as áreas mais perigosas para a navegação regional nos meses de estiagem.

Ainda segundo Galdino, o Sindarma também irá solicitar dos órgãos públicos estaduais e federais de segurança, o aumento do efetivo e da fiscalização nos rios para evitar que balsas de garimpos ilegais se instalem (nos canais de navegação) e ameacem a segurança do transporte fluvial até com a cobrança de ‘pedágios’ para permitir a passagem dos barcos.

Por dentro

A capitania fluvial de Porto Velho emitiu um comunicado limitando a navegação noturna por prazo indeterminado, em decorrência do longo regime de seca do Rio Madeira. no trecho de Porto Velho à Passagem Uruá em Novo Aripuanã, considerando a permanência do nível do Rio Madeira abaixo dos quatro metros, conforme registros nas réguas da ANA (Agência Nacional de Águas).

Além disso, está proibida a navegação diurna para embarcações com calado superior a 3.50 metros. Para embarcações que transportem cargas perigosas e elevado potencial poluidor o calado máximo deverá ser de 3.00 metros.

Por Andreia Leite

Fonte: JCAM

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui