O varejo do Amazonas ensaiou recuperação em março, após o zigue-zague de vendas em janeiro e fevereiro. O volume comercializado foi 1,5% maior que o do mês anterior, sendo favorecido pelo acréscimo de cinco dias úteis. O resultado também foi 9,5% melhor do que o do terceiro mês de 2022, quando o Estado começava a deixar para trás os impactos da terceira onda da covid-19. O trimestre sustentou alta de 3,9%, possibilitando a entrada do acumulado dos últimos 12 meses (+0,3%) no campo positivo, pela primeira vez neste ano. É o que revelam os dados da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgados pelo IBGE, nesta quarta (17).

Ao contrário do ocorrido em fevereiro, o Estado bateu a média nacional do setor em quase todas as comparações. Em um ainda mês sem datas comemorativas, a atividade subiu 0,8% em todo o país, na variação mensal. Na análise do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o resultado sinaliza que o setor saiu da estagnação. Mas, a expansão se limitou a somente três dos oito segmentos do varejo, com destaque para artigos de informática, drogarias e lojas de móveis e eletroeletrônicos. O comércio brasileiro cresceu 3,2% frente a março de 2022 e avançou também nos acumulados do ano (+2,4%) dos 12 meses (+1,2%).

Os segmentos comerciais de bens dependentes de crédito também progrediram, apesar da escalada dos juros. O desempenho seguiu em linha com os aumentos de propensão de aquisição de bens duráveis registrado pela sondagem de Intenção de Compras das Famílias da CNC (+6,1%), e também pela pesquisa de Confiança do Consumidor da FGV (+10,27%). A inflação, por outro lado, manteve o descolamento da receita nominal e inibiu vendas mais fortes. Em março (+0,71%), o IPCA teve alta mais amena do que a de fevereiro (+0,84%) e foi puxado pela gasolina, conforme o IBGE. A única baixa veio dos “artigos de residência” (0,27%) – como móveis e eletroeletrônicos, entre outros.

O comércio teve vendas positivas em 23 das 27 unidades federativas brasileiras, entre fevereiro e março. O incremento de 0,8% permitiu o Estado saltar da 22ª para a nona posição do ranking. O melhor número veio do Espírito Santo (+5,7%) e o pior, do Rio de Janeiro (-2%). Com a elevação de 9,5% ante março de 2022, o varejo local galgou do 22º para o quinto lugar, em um rol liderado por Tocantins (+13,8%) e encerrada pelo Distrito Federal (-1,7%). No acumulado do ano, o Amazonas passou da 21ª para a 15ª posição, também com Tocantins (+12,9%) e Rio de Janeiro (-1) nos extremos da lista.

Receita e crédito

O comércio amazonense teve resultados díspares na receita nominal – que não leva em conta a inflação do período. Na, variação mensal (+1,6%) empatou com as vendas, em desempenho superior ao de fevereiro (+0,8%). O confronto com março do ano passado levou a uma expansão de dois dígitos (+10,2%), contribuindo para uma taxa de crescimento de 6,8% no trimestre. Os impactos de longo prazo do IPCA contribuíram para uma diferença ainda maior no aglutinado de 12 meses (+5,6%). A média nacional (+2,5%, +7%, +8,6% e +12,6%, na ordem) foi maior em quase todas as comparações.

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que os subsetores de veículos e material de construção progrediram nas vendas, e que essa diferença foi maior na comparação com o mês anterior, levando o varejo ampliado a um acréscimo de 5,2% – mais que o triplo obtido em fevereiro (+1,4%). A alta chegou a 15% ante o mesmo mês do ano passado, culminando em um trimestre 6,1% mais forte. O impacto da inflação e dos juros no endividamento das famílias, no entanto, manteve o aglutinado dos 12 meses (-0,8%) no vermelho.

O IBGE informa que o crescimento do comércio brasileiro na variação mensal se disseminou em apenas três dos oito dos segmentos: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (+7,7%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+0,7%); e móveis e eletrodomésticos (+0,3%). Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo marcaram estabilidade, enquanto os subsetores de tecidos, vestuário e calçados (+4,5%); artigos de uso pessoal e doméstico (-2,2%); livros, jornais, revistas e papelaria (-0,6%); e combustíveis e lubrificantes (-0,1%) encolheram.

“Possibilidade de melhora”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, enfatizou que o crescimento de março representou um resultado expressivo para o varejo amazonense, após as oscilações  mês a mês ocorridas desde 2022. O pesquisador acrescentou também que a contribuição dos segmentos de bens duráveis foi significativa para esse resultado, e que a sinalização da pesquisa é positiva para o setor, no curto prazo.

O volume de vendas voltou crescer, depois de ter caído em fevereiro, sendo o segundo aumento do indicador na variação mensal, ocorrida neste ano. “Na comparação com o março de 2022, a taxa foi bem alta, indicando a superioridade dos negócios e crescimento próximo de 4% no trimestre. No momento, a média móvel trimestral está acima de 0,5%, o que indica a possibilidade de melhora para o indicador de vendas do comércio, nas próximas divulgações dos resultados da pesquisa”, avaliou.

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, destacou que o aumento mensal das vendas do setor em âmbito nacional representou a saída da estabilidade para um resultado que pode ser considerado de crescimento. O pesquisador observou ainda que o varejo ampliado apresentou aumento do ritmo de crescimento e que o resultado positivo de março foi o quarto consecutivo, sendo puxado principalmente pelo setor de veículos e motos, partes e peças.

“Ao observarmos os últimos três meses juntos, vemos ganho de patamar de 4,5% para as vendas globais do varejo, em relação a dezembro do ano passado, último mês de queda”, analisou. “Foi um resultado bastante equilibrado na análise dos setores. Algumas atividades apresentaram resultado bem próximos da estabilidade, como foi o caso de hiper e supermercados, atividade de maior influência. Já o resultado positivo para o mês pode ser explicado também pelo fato de o setor com o segundo maior peso, de artigos farmacêuticos e perfumaria, ter subido 0,7%”, emendou.

Reviravolta e sobrevivência

O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços de Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, concorda que os dois meses iniciais do ano foram “muito difíceis” para o setor e que uma aparente recuperação foi sinalizada em março. Mas, ressalva que o crescimento não foi percebido em abril e que há dúvidas de como será o comportamento das vendas em maio, mês do Dia das Mães.

“O que temos percebido em conversas com muitos empresários é que a maioria deles está um pouco preocupada e alguns estão, até certo ponto, apreensivos. As famílias estão endividadas inibidas em seu consumo e a inadimplência preocupa todos os setores da economia. À medida em que o tempo avança, e esse caos provocado pelas elevadas taxas de juros permanece, nós vamos sentindo que, realmente, precisamos de uma reviravolta nesse quadro, para que o comércio possa sobreviver”, arrematou.

Fonte: JCAM

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