Por: Gerson Severo Dantas
Em: Negócios
9 de agosto de 2023
O acordo entre os blocos Mercosul-União Europeia representa um risco e uma oportunidade para a economia do Amazonas nos próximos 15 anos, prazo em que o Brasil esperar ver o Produto Interno Bruto (PIB) saltar mais de US$ 500 bilhões em negócios com 31 países do bloco Europeu.
A Zona Franca de Manaus teria que aumentar sua produção industrial, que hoje praticamente dá conta apenas do mercado interno, e melhorar substancialmente a qualidade de seus produtos para competir em igualdade de condições com produtos que entrariam via Mercosul-União Europeia.
O Polo de Duas Rodas, por exemplo, pode ser o mais afetado e há quem tema o fechamento de até 22 empresas hoje instaladas em Manaus. Em fevereiro, por exemplo, este polo produziu 121.403 motocicletasa, mas apenas 3,3 mil foram exportadas. O resto foi absorvido pelo mercado interno.
“A produção industrial aqui no Amazonas dá conta apenas do mercado interno. Nossas exportações para países do Mercosul e da Amazônia internacional, como Colômbia e Venezuela, são baixíssimas. Como poderíamos entrar na União Europeia?”, questiona o economista Sérgio Gonçalves.
Outro problema é a qualidade dos produtos da industrial local, que terá de dar um salto tecnológico grande para competir com o produto europeu. “Será mais fácil o produto industrial europeu entrar no nosso mercado”, completa o especialista.
Em uma audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o senador Omar Aziz (PSD) alertou para a fragilidade da indústria automobilística. “Será que nossa indústria automobilística tem condições de competir com a produção europeia, ou vamos perder até o mercado interno?“, questiona.
“E no geral, o que vamos exportar para a Europa em termos de tecnologia de ponta? Nada, porque não temos e não vamos ter. Vamos exportar só agronegócio. Não temos nenhuma perspectiva de competirmos com a Europa nos segmentos de quatro rodas, duas rodas e eletro-eletrônicos“, afirmou o senador
Omar, assim como Gonçalves, lembra das dificuldades para a nossa indústria exportar para vizinhos, que preferem comprar da China, algo que acontece também com o Sul dos Estados Unidos, que está mais próximo do mercado produtor de Manaus, mas compra dos chineses.
Oportunidades do acordo Mercosul-União Europeia
Já na coluna das oportunidades, o acordo Mercosul-União Europeia abriria espaço enorme para a indústria de fármacos, cosméticos e de alimentação natural, mas que precisaria do up grade que promete ser dado pelo Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA).
“Há uma série de itens da biodiversidade Amazônica que podem ser desenvolvidos e transformados em bionegócios, com efeitos muito benéficos para a geração de emprego, renda e geração de riqueza em nossa região”, diz o gestor do CBA, Elias Araújo.
Ele lembra o produto desenvolvido no CBA de maior sucesso até o momento que é a fibra do Curauá, o abacaxi da Amazônia, que é usado em revestimentos de plásticos na indústria automobilística nacional e que poderá invadir a Europa via Mercosul.
O superintedente da Suframa, Bosco Saraiva, lembra também de produtos de beleza e de alimentos, hoje incentivados por programas de exportações que tendem a tomar os mercados mundiais, como
“Inclusive algumas empresas incentivadas já exportam, como a Biozer, que produz alimentos funcionais e cosméticos, e a Destilaria Eurydice, que produz um gim a base de produtos amazônicos”, cita Saraiva.
Em números gerais, o Governo Brasileiro estima que em 15 anos a desoneração tarifária de produtos brasileiros com destino a Europa fará o fluxo comercial chegar a mais de R$ 1 trilhão e atrairá investimento de R$ 450 bilhões no País.
Fonte: Real Time 1