Na véspera de entrar em vigor a tarifa de exportação de 25% sobre aço e alumínio brasileiros para o mercado americano, fabricantes de produtos siderúrgicos e do metal não ferroso estão na expectativa de que haja, ao menos, a prorrogação das medidas em 30 dias. Esse tempo dará fôlego para aprofundar negociações com as equipes de comércio exterior do governo de Donald Trump. Nesta terça-feira, o presidente americano impôs uma tarifa adicional de 25% sobre o aço e o alumínio do Canadá, somando 50%.
O Brasil é um grande exportador de aço para os Estados Unidos. Grande parte do volume que desembarca em solo americano, cerca de 90%, é de material semiacabado (placas). Siderúrgicas locais importam esse tipo de aço e o beneficiam para ser usado na fabricação de vários tipos de produtos, como automóveis, bens eletrodomésticos e máquinas e equipamentos.
O setor siderúrgico americano, apesar de ser o quarto maior do mundo, é deficitário na oferta de placas às unidades de laminação independentes do país. Por isso, elas têm de importar de muitos lugares do mundo, como Canadá, Brasil, México e Coreia do Sul. Apenas do Brasil, diretamente e via México, foram despachadas 5,3 milhões de toneladas em 2024.
Trump, em seus discursos, diz que pretende eliminar o que chama de “importações que colocam em risco a soberania do país”. Em 2018, quando era presidente e adotou a Seção 232, que taxava nos mesmos 25% aço e alumínio de muitos países do mundo, o Brasil negociou o regime de cotas. Foi estabelecido volume máximo de 3,5 milhões de toneladas de placas e 687 mil toneladas de aços laminados para entrar sem a sobretaxa. Para alumínio foi definida tarifa de 10%.
Três siderúrgicas brasileiras são mais afetadas com as tarifas de Trump se não houver um arranjo que permita estender o sistema de cotas: ArcelorMittal e Ternium, fabricantes de placas que exportam a maior parte de sua produção aos EUA, e CSN, que embarca produtos laminados de alto valor agregado. A Usiminas faz vendas esporádicas para os EUA.
No alumínio, a CBA, controlada do grupo Votorantim, é quem mais sofre, pois exporta produtos laminados (folhas), mas o volume não passa de 5% das vendas da empresa, segundo informações. Segundo dados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), os embarques para os EUA representaram 17% (US$ 267 milhões) do total exportado pelo setor no ano passado − US$ 1,5 bilhão. Há empresa, como a Hydro, que não exporta nada para o mercado americano.
Por outro lado, o grupo Gerdau deve, à primeira vista, se beneficiar com a proteção que Trump busca dar aos produtores locais. Além de não vender nada para os EUA, a companhia tem fabricação de aço (produtos longos comuns e especiais) no país, de onde extrai 40% de sua receita anual. Nos cálculos de analistas, a Gerdau pode obter ganhos expressivos com aumentos de preços do aço que já acontecem desde fevereiro no mercado americano.
Um especialista que acompanha o setor informou ao Estadão que alguns tipos de produtos siderúrgicos planos já tiveram aumento de mais de 15% nos preços. A tonelada de aço plano (placa) já subiu cerca de US$ 100 em razão da potencial tarifa de 25% para todos os aços importados. A alta tem escalado nos vários elos da cadeia produtiva.
Governo brasileiro à frente do embate
As tratativas com os EUA, desde o início, por estratégia negocial, ficaram a cargo do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, e do ministro de Relações Exteriores (MRE), Mauro Vieira. O pleito do setor é a renovação das cotas de exportação. Representantes da indústria siderúrgica no País têm se reunido no Mdic, em Brasília, toda semana, levando subsídios para substanciar as negociações.
Na semana passada, após algumas tentativas, Alckmin e equipe tiveram uma conversa de quase uma hora com o Secretário de Comércio de Trump, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA (USTR), Jamieson Greer. Segundo informação publicada pelo Estadão na sexta-feira, 7, Lutnick e Greer ficaram de levar a Trump o pleito para adiamento da data (12 de março) para a entrada em vigor das tarifas sobre os dois produtos brasileiros. Os americanos pedem, em troca, abertura de diálogo, por exemplo, sobre o imposto de importação que o Brasil aplica ao etanol comprado dos EUA, considerado muito alto (18%). Desde então, passaram a fazer troca de informações técnicas.
Procuradas, as empresas de aço e alumínio, o Instituto Aço Brasil e a Abal informaram que preferem não se manifestar sobre a sobretaxa. Aguardam o desfecho das negociações do governo brasileiro com os representantes de comércio de Trump.
Fonte: Estadão