A indústria de bicicletas do PIM tentou reagir em maio, mas confirmou recuo de produção. O Polo Industrial de Manaus entregou 44.713 bicicletas unidades e até conseguiu escalar 13,6% em relação a abril (39.377), que teve quatro dias úteis a menos. A comparação com o mesmo mês do ano passado (56.845), no entanto, indicou um tombo de 21,3%. O desempenho não foi melhor no acumulado do ano, a despeito da base de comparação ter sido comprometida pela terceira onda de covid-19. Em cinco meses, o segmento já chegou a 23,8% de queda, com 219.078 (2023) contra 287.534 (2022) unidades.

Os dados são da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares). A entidade empresarial estima melhora para a produção no segundo semestre. Mas, mantém a estimativa de chegar ao final de 2023 com apenas 570.000 bicicletas fabricadas, o que representaria uma retração de 4,8% ante 2022 (599.044). Em sintonia com os indicadores de produção e vendas internas, as exportações de bicicletas do PIM também desaceleraram e acumulam quedas no ano.

Na análise da Abraciclo, um dos motivos para a performance negativa é a resiliência na crise de abastecimento de insumos. Diferente das motocicletas, as bicicletas têm 50% de seus insumos importados. Outro fator apontado é o deslocamento da demanda do mercado doméstico para produtos de maior valor agregado, em detrimento de “modelos de entrada”. Vale lembrar ainda que as linhas de produção de bicicletas sem marchas ficaram de fora da lista de produtos da ZFM salvaguardados da perda de competitividade proporcionada pelos decretos de redução do IPI – situação que deve perdurar até a sanção da reforma Tributária.

O polo de bicicletas da indústria incentivada de Manaus conta atualmente com quatro fabricantes – Caloi, Sense Bike, Oggi Bikes e Houston Bike –, que respondem por 40% da oferta do segmento em todo o país. Depois de começar 2022 com projeções de crescimento de dois dígitos (+17,4%), o segmento começou a derrapar desde abril do ano passado, e já emplacou 13 meses seguidos de retração anual. Em contraste, o polo de motocicletas seguiu crescendo no período, além de colecionar recordes de produção em vários meses.

Categorias e exportações

Segundo a Abraciclo, o mercado brasileiro continuou apostando nas Moutain Bikes. A categoria liderou o ranking de produção de maio, com 26.025 unidades e 58,20% da oferta. Mas, também registrou o maior tombo da lista, diante de maio de 2022 (-29,6%). Foi seguida pela Urbana/Lazer (12.247 e fatia de 27,4%) e pela Infanto-Juvenil (4.437 e 9,9%), Elétrica (1.123 e 2,5%) e Estrada (881 e 2%). As posições foram mantidas no ranking do acumulado do ano.

Pelo segundo mês consecutivo, o Sul foi a região que recebeu o maior volume de bicicletas fabricadas no PIM no acumulado do ano. Foram enviadas 17.090 unidades para lá, o que corresponde a 38,2% do total fabricado em maio. Na sequência estão o Sudeste (15.547 e 34,8%) – que vinha liderando a lista até março –, o Nordeste (5.228 e 11,7%), o Centro-Oeste (3.814 e 8,5%) e o Norte (3.034 e 8,5%). Mas, no ranking mensal, a liderança voltou a ser do Sudeste e sem mudanças nas demais colocações.

Em sintonia com a produção menor, as vendas de bicicletas “made in ZFM” para o mercado estrangeiro dispararam em uma escala de cinco dígitos entre o volume atípico de abril (2) e o resultado efetivo de maio (740), mas desabaram 71% ante o dado de 12 meses atrás (2.548). Conforme o levantamento do portal Comex Stat, os principais destinos foram Chile (300 unidades e 40,5% do total), Bolívia e Colômbia (ambos com 150 e 20,3%). No acumulado do ano (4.686), a retração foi de 41,2%. Os mercados preferenciais foram Paraguai (1.693 e 36,1%), Bolívia (1.468 e 31,3%) e Uruguai (794 e 16,9%).

Segundo semestre

Em entrevista exclusiva à reportagem do Jornal do Commercio, o diretor executivo da Abraciclo, Paulo Takeuchi, já havia reforçado que as oscilações no abastecimento de insumos e a “alteração da curva da demanda doméstica” forçaram os fabricantes do PIM a reprogramar seu mix de produtos. De acordo com o dirigente, foi necessário que a indústria todo seu planejamento, da cadeia logística às linhas de produção, em meio a uma conjuntura econômica de perda de poder de compra das famílias e aumento nos níveis dos estoques de modelos de entrada em lojas e centros de distribuição.

Por meio da assessoria de imprensa da Abraciclo, Paulo Takeuchi, salientou que o cenário sinaliza uma ligeira melhora para o polo de bicicletas. “Nossos associados produziram quase 45 mil unidades, em maio, e um número próximo a 220 mil, no ano. Isso demonstra que o plano de adequação à produção vem saindo conforme o planejado. Ou seja, o de reduzir os estoques, que se acumulavam desde o ano passado. A gente vê uma gradativa melhora nessa questão e, por isso, um aumento no ritmo de produção”, amenizou.

Diante disso, Paulo Takeuchi ressalta que o segundo semestre traz uma “expectativa mais positiva” para o segmento. “Isso ocorre por conta de motivos que a gente já vinha apontando, como a já mencionada adequação dos níveis de estoque. Nossas associadas já estão com novos produtos para o período e temos várias atividades grandes datas que vão ajudar a impulsionar o mercado, como o Dia das Crianças e o Shimano Fest 2023. E teremos também grandes ofertas de varejo”, listou.

Saída pela verticalização

O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus, e vice-presidente da Fieam, Nelson Azevedo, destaca que, apesar de maio ter registrado mais um resultado negativo, a expectativa da Abraciclo para este ano já é bem menor do que a atingida em 2022 – quando o tombo chegou a 20,1% e a oferta não passou das 599.044 unidades. Para o dirigente, uma saída para a crise do subsetor pode vir do adensamento de sua cadeia produtiva.

“A indústria local continua sendo impactada pela inversão no mix de produção, que freou os volumes de produção e frustrou melhores estimativas para o setor. Houve uma mudança no consumo, ocasionando menores volumes de venda. Outro fator que ainda persiste é a escassez de alguns componentes provenientes do continente asiático. Por isso, os fabricantes estão fazendo um movimento para aproximar as indústrias de componentes com as fabricantes de bicicletas, destacando o potencial de crescimento desse setor e equacionando essa deficiência enfrentada pelas indústrias locais”, frisou.

Em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o ex-presidente do Corecon-AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Junior, lembrou que a crise do IPI foi fundamental para a queda de produção, ao fazer com que o PIM perdesse mercado para os importados, que ficaram mais baratos. “Isso, somado aos juros altos, fez as empresas analisarem seus custos de oportunidade e revisarem seus planejamentos estratégicos para competir nos segmentos de maior valor agregado, por meio de ganhos de escala”, encerrou.

Por Marco Dassori

Fonte: JCAM

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui